Política

Discurso torto sobre a guerra aprisiona Lula em suas viagens internacionais

Em viagem ao G7, presidente perdeu oportunidades de enfatizar agenda ambiental e discussões sobre o combate à desigualdade

A coletiva de encerramento da participação do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva no encontro do G7 no Japão mostrou de forma crua como a estratégia brasileira para discutir o conflito entre Rússia e Ucrânia colocou o país em uma armadilha que atropela qualquer outro debate e assunto de interesse do país. Hoje, em qualquer lugar do mundo em que vá, Lula é questionado sobre a guerra e, cada vez mais, fica nítido o erro da política externa brasileira que colocou o país no conflito sem que seja considerado efetivamente como um polo capaz de mediar a discussão que possa levar ao fim da guerra.

Seria muito mais útil à imagem do país e aos interesses brasileiros que a visita de Lula ao G7 circundasse as discussões sobre o financiamento de ações ambientais, ações de proteção da Amazônia e o papel do Brasil para contribuir para o fortalecimento da América Latina, inclusive convencendo o Fundo Monetário Internacional (FMI) a tirar a faca do pescoço da Argentina, como integrantes do governo têm dito.

Ocorre, porém, que a presença do ucraniano Volodymyr Zelensky no evento, a falta de atenção dada a ele por Lula quando ele adentrou a sala para discursar e, posteriormente, o desencontro que impediu uma reunião entre os dois, tornou esse, mais uma vez, o único assunto da pauta. Neste caso, parece claro, pelas falas de Lula e Zelensky, que foi o ucraniano quem se recusou a encontrar o brasileiro, o que reforça a versão de que o Brasil é visto em boa parte da comunidade internacional como um aliado da Rússia.

O presidente brasileiro dizia o tempo inteiro que o país não aceitaria entrar nessa guerra. Mesmo não entregando material militar, não contribuindo financeiramente para nenhum dos lados do conflito, ao fazer discursos contra aqueles que apoiam a Ucrânia, como a crítica ao discurso de Joe Biden no Japão, Lula acabou por colocar o país no conflito. Ao lado da Rússia, o invasor, o que é pior. Movido por interesses comerciais ou ideológicos, pouco importa, o certo é que o Brasil não é visto como um interlocutor isento.

Há quem imagine que o objetivo de Lula era garimpar a chance de um Nobel da paz ao pregar pela negociação para encerrar o conflito. Pouca gente pode acreditar, primeiro, que a guerra pode de fato acabar em curto prazo. Segundo, que isso se daria por uma negociação e não pelo fato de um dos dois exércitos ser aniquilado no local. E, terceiro, que se uma negociação eventualmente suplantasse o conflito, que isso se daria com participação central do Brasil. Se Lula quer um Nobel da paz, seria mais fácil consegui-lo por meio da batalha para melhoria das condições de vida no planeta, atuando na defesa da preservação ambiental, na proteção da Amazônia e na luta contra a desigualdade em toda parte do mundo. Esse discurso, porém, tem perdido espaço na agenda internacional justamente pelo discurso sobre a guerra.

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